quinta-feira, maio 13, 2010

A Juliana morreu de dengue, poderia ter sido eu

Minha amiga Rejane Lima escreveu esse texto em tom de desabafo.
Nós duas conhecíamos a Ju... sotaque santissssta, sorriso largo, risada inesquecível...
Já deixou saudade, mas deve estar fazendo a alegria no céu!
Um beijo,
Mari

*******************

A Juliana morreu de dengue, poderia ter sido eu

Rejane Lima

Já fiz várias matérias sobre dengue. Nesta epidemia, o Estado foi o primeiro a sinalizar sobre o problema aqui na Baixada Santista, quando publicou em janeiro a escalada da doença no Guarujá, mostrando que dos 81 casos de dengue registrados ao longo do ano de 2009, 53 se concentravam em dezembro. Esse ano, a cidade já tem 4.477 pessoas infectadas, com 12 mortes. Santos está logo atrás, com 4.474 casos e 19 mortes. Em toda a Baixada, mais de 14.500 pessoas tiveram dengue esse ano e 38 morreram. Minha prima e seu filho tiveram dengue semana passada. Meu cunhado e minha sobrinha no mês passado. E no último sábado, eu fui a missa de 7º dia da colega Juliana Augusto, jornalista, que morreu de dengue hemorrágica aos 35 anos.

Juliana morava em Santos e trabalhava no Guarujá. Estudou o ensino médio na mesma escola pública que eu, mas talvez porque fosse dois anos mais velha nos conhecemos somente muito tempo depois, em 2006, quando ela trabalhava na assessoria de imprensa da Prefeitura do Guarujá e eu me tornei correspondente do Grupo Estado na Baixada.

Era uma boa profissional, uma assessora prestativa e uma repórter dedicada. Tinha um sorriso largo, contagiante. Escrevia belos textos sobre suas impressões e sonhos em um blog. Havia feito aniversário dia 30 de abril, quando eu deixei um recadinho para ela em seu Orkut, da mesma forma que ela deixara para mim, dez dias antes.

Juliana morreu de dengue hemorrágica no domingo, dia 2, dois dias depois de completar 35 anos. Sentiu-se mal na quarta-feira, foi até a Santa Casa de Santos e lá medicada com um antibiótico para tratar de broncopneumonia. Teve febre e procurou outro hospital na quinta-feira, a Casa de Saúde, onde foi orientada a continuar o tratamento contra a broncopneumonia. Piorou na sexta-feira, no sábado voltou à Santa Casa e ficou internada. Com convulsão, foi para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) na noite de sábado. Morreu na manhã de domingo, uma semana antes do dia das mães.

Assim como a mãe da Juliana, dezenas de outras mães não fizeram festa no último domingo: perderam seus filhos por causa da picada de um mosquito, da displicência de seus vizinhos, da incompetência pública, do despreparo médico. Independentemente dos motivos que levaram a essa e outras mortes, revolta muito perceber que em uma cidade como Santos, que se enaltece por possuir um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do País, pessoas morrem de dengue e o Aedes Aegypti continua no papel de vilão. Foi a mãe da Juliana quem perdeu a filha, mas poderia ter sido a minha mãe. Ou a sua.